Era uma vez uma criança muito pequena para sua idade.
Mas seu tamanho não fazia jus à sua inteligência.
Estava no 4º ano, mas com potência para o infinito, se houvesse possibilidade.
Seus amigos, embora poucos, estavam sempre prontos para ajudá-lo.
Muitíssimo educado, chegava a incomodar tamanha sua gentileza para com professores e colegas.
Não conhecia muito do mundo, mas sabia que ele não era fácil.
Descobrira muito cedo os dissabores da vida.
Morava com seu pai, sua madrasta e o filho dela.
Esse menino era um pouquinho mais novo.
Dentro de casa vivia na paz e tranquilidade, tinha suas obrigações como qualquer outro filho, mas também gozava de seu tempo de ser criança.
Ilusão.
Isso só acontecia quando seu pai estava em casa.
Quando não estava, que era na maioria do tempo, fazia o trabalho de todos.
Seu “irmãozinho” também tinha obrigações, mas sua madrasta as passava adiante.
– Meu filhinho precisa ser criança! – Dizia ela.
“Mas eu também sou”, pensava ele.
Enfim, apenas um pensamento.
Quando não conseguia fazer todas as tarefas já sabia.
Ouvia o cantar da Cinta!
Ouvia quieto.
Seu pai até conseguia observar alguns excessos, mas pensava ser necessário.
Sua mãe também tinha outra família, mas vivia com um pouco menos de recursos.
Também teve um passado difícil, passado que a fez perder a guarda do menino.
Não imaginava o tamanho de seu arrependimento.
– Se pudesse voltar atrás…
Infelizmente não conseguira bancar um defensor para retomar-lhe.
O filho sabia disso. Sentia muita falta da mãe.
Sofria calado, sem derramar uma só lágrima.
Havia mais um motivo, a pensão paga pela mãe era tentadora.
Não muita, mas atraente o suficiente para suprimir qualquer tentativa de retorno à mãe.
Um dia o menino veio a escola de moletom.
Um dia quente.
Mas muito quente.
Os profissionais acharam estranho e foram averiguar.
A cinta havia cantado de forma a deixar marcas profundas em seus braços e pernas.
Também não aguentou e suplicou a saudade que sentia da mãe.
O pai que tinha a guarda foi chamado, mas não atendeu às ligações.
Dada a urgência, foi ligado para a mãe que prontamente atendeu a solicitação e foi à escola.
Estarrecidos, os profissionais da educação ouviram a mãe e tudo que o menino sofria.
Incapazes de qualquer ação a mais do que o comunicado à rede de apoio do município, a escola fez uma proposta inusitada.
Na próxima visita que o menino fizesse a mãe traria um objeto de apreço que o fizesse lembrar dela.
Essa peça ficaria em segurança na escola e o menino poderia ficar o tempo que quisesse com ele.
O tempo necessário para matar um pouco a saudade.
A escola fez o seu melhor, apostando no mínimo.
No mínimo de amor necessário a ele.
Continuava sendo um menino muito pequeno para sua idade.
Mas seu tamanho não fazia jus à sua inteligência.
Estava no 4º ano, mas com potência para o infinito, se houvesse possibilidade.
Autor: Alberto Neto